sexta-feira, 6 de julho de 2007

Reflexões e uma vida socialmente antisocial

UMA IDA AO SUPER

Há relativamente pouco tempo, numa destas manhãs, verifiquei, com supressa, quando preparava uma tijela de uma conhecida marca de cereais, que o leite havia acabado! Fiquei desesperado, pois lá me iria faltar a mais importante refeição diária, o pequeno almoço. Saí á pressa, conseguindo ainda passar a mão num bolinho na pastelelaria do lado. Tudo bem ão de pensar, mas não ! Faltava-me o leite, o que me leva ao cerne da questão, teria de o comprar. O pior é que perto da minha casa só há um super, e com a falta de tempo de que dispunha para a compra de tão afamado bem, não me restava outra opção. Lá teria que ir ao super, o pior é que a minha relação com os tais supermercados nunca tinha sido das melhores. Desde tenra idade que o trauma se instalara, quando petiz nas minhas primeiras incursões á secção dos produtos domésticos, fiquei totalmente sobeterrado por rolos de papel higiénico, resultantes de o desmoronamento de uma palete desiquilibrada que eu havia abanado insistantemente, no meio das traquinices próprias da idade. Mais mil e uma desventuras que lhes poderia contar como daquela vez, uns anos mais tarde em que me perdi e me tentaram adoptar a força, ou a outra em que ... isso agora não intressa já estou a divagar...
Continuando a história lá tinha que fazer uma incursão ao território do super. Vesti uma roupa aconchegante, bebi um chá de limão, fintei me no espelho e sai repentinamente sem pensar muito no que tinha que fazer.
Cheguei aproximadamente um quarto de hora antes do estabelecimento abrir, e já uma pequena mas composta bicha (fila) se organizava no exterior. Ao ler horário de funcionamento afixado na porta, foi abordado por uma senhora atarrancada que apresentava um imponente buço, que ao reparar na minha presença, exclamou : “O senhor esta agora em ultimo lugar, atrás daquela senhora de roxo”, apontando para uma senhora de camisolão com flores arroxeadas no fim da bicha. Apanhado de supresa pela aparente organização por parte do cartel das velhinhas, exclamei irritadamente : “eu sou vou comprar a porcaria de um pacote de leite, não quero marcar consulta no medico de familia”, e ela respondeu-me “só me faltava malcriados, é assim que as coisas funcionam se não for ali para trás da senhora de roxo, perde o lugar.”; “ O cú da tia ! è que vou para ali, é a primeira vez que vejo um fiscal de bichas, por favor!”
Ao ouvir o meu comentário a senhora entrou num estado catatónico, vidrou os olhos e tentou ignorar me completamente. Perante tal indiferença, lancei os meus argumentos finais “ além disso assim que passarem a porta, deixa de haver ordem, sabe aquilo ali dento é grande, não intressa que entra primeiro, ou então vão fazer as compras em fila indiana.”, mas ao que parece havia me tornado invisivel a todos que ali esperavam, então sai dali e fui beber um café, de modo afastar me por quinze minutos daquele grupo irritante e só voltei quando a porta já estava aberta e a multidão se dispersado.
Entrei e segui em frente para ver se me deparava com o objecto da minha busca, tentei dolorosamente abrir caminho por entre os estreitos corredores entupidos por grupos de senhoras de cú gordo que encontravam ali o seu ponto de encontro para dar a lingua.
Foi relativamente rápido, consegui encontrar o fruto da minha busca, ao que parece tinha feito as curvas certas neste labirinto. Feliz por estardiante o meu objectivo apressei-me em direcção da palete sem reparar que estava prestes a ser intreceptado por um carrinho de comprar que acelerava bruscamente em direcção á minha pessoa, destraido lá levei uma valente cacetada com o gradeamento do carrinho nas canelas, ao encurvarme para passar a mão na zona magoada reparei quem era o responsavel pela condução, já adivinharam quem era, pois é, a ditadora de bichas. Ela olhou para mim expressando um olhar raivoso, que mais parecia dizer “bem feita” do que outra coisa e desapareceu tão rapidamente com aparecera, e eu, ainda a cochear dos meus ferimentos de guerra, peguei num pacote de leite a cair para o gordo, e saí em direcção as caixas registadoras, orientado pelo repetitivo e irritante “ Bip, Bip, Bip, Bip” caracteristico do passar dos produtos, continuei a desbravar caminho por entre mais algumas secções, passei por a das bebidas onde sujeitos tresandando a meias molhas e a vinagre tentavam encher a barriga com os olhos, Agora vou provar um wiskey de 15 anos agora um brandy, que bom!” deviam pensar. Por a secção de produtos de limpeza onde senhoras de chinelos, cheiravam profusamente os detregentes como se tratasse da nova colecção de prefumes, exclamando entre si: “ este cheira apessego, ai este a alfazema e este a mar”- tá bem como se o cheiro do mar desse para meter num detergente para o chão.
Lá consegui encontrar a saida daquele inferno satanico, mas os demonios da loja não me queriam deixar sair, isto porque só estava uma caixa a funcionar a Bicha “Peço desculpa aos Brasileiros, mas não gosto de dizer fila”, era interminável dando voltas e voltas como uma cobra bêbada. Que remédio pensei, talvez isto ande rápido, talvez tenham algum respeito pelos clientes e abram mais uma caixa ou talvez duas, para já por tudo o que passei não me custa a esperar.Segui até ao final da bicha a um quilometro e meio da saída e lá esperei, sem reparar que, a minha frente estava a minha inimiga de armas, a ditadora de filas, como estava de costas não reparou na minha pessoa, e por isso permaneci quieto fora do seu campo periférico, tirei o casaco, e enfiei o na mala, coloquei os óculos e passei a mão pelo cabelo, vamos ver se o morcego cego não me reconhece quero parecer incógnito , pois dispensava mais algumas nódoa negras.O tempo parecia interminável, a minha cabeça já começava a latejar de dor, e o pacote de leite na minha mão, parecia pesar dez quilos, e porventura teria já passado a fronteira para se tornar em nata. Para além disso já fixara os produtos de preferência da minha recente, inimiga, arrumados cuidadosamente por tamanho e feitio no fundo do seu carrinho. Um frasco de compota de pêssego, tostas, chá de tília, comida para gato, café de cevada e uma barra de sabão macaco.As horas tantas, apareceu um tipo cheio de piercings com um pacote de bolachas na mão, que se colocou no fim da bicha relativamente próximo de mim, isto porque para meu azar ainda não tinha chegado mais ninguém e eu permanecia sempre como um dos últimos.A presença de tal personagem não passou indiferente a população da bicha, o que levou a varias depreciações por parte daquelas mentalidades de cáca. Após alguns comentários entre si uma das senhoras que se encontravam maisperto da caixa, virou-se para trás e disse: " È só isso que vai comprar ?, venha filho... aqui para a frente que se despacha já."E é claro ele lá foi feliz da vida, por se ver livre daquela espera morosa.Ao deparar me com o rapaz, a preparar o pagamento, exclamei, mais fulo que um Boi em Barrancos: " DESCULPE !! ... mas eu estava a frente do senhor e não, lhe dei autorização para que me passa-se a frente" E a senhora lá da frente respondeu: " Mas fui eu que lhe dei o lugar. " O quê?... Deu lhe o lugar ?.. Então agora vêm cá para trás... a senhoranão pode deixar passar que quiser e lhe bem apetecer... Eu também só tenhoum artigo e já estou aqui a secar, á um montão de tempo? " - Argumentei impiedosamente. " A minha frente é que ele não passa ? "- exclamou repentinamente a ditadora de filas, fintando-me com um olhar mortal." Filho ?, não vai levar a mal ! ... Não vê que ele tinha a cara toda furada!"- exclamou inocentemente a senhora do fundo tentando acalmar os ânimos." E depois... " Referi prontamente" Coitadinho aquelas bolachas devem ser a única coisa que vai comer... em muito tempo !!"Perante esta infeliz afirmação por parte da senhora do fundo, desisti por completo de argumentar, levando a crer que me havia convencido, revirei os olhos e tentei me abstrair da situação, pois o pensamento "Ai se eu tivesse furos, não tinha que esperar !", não me sai-a da cabeça.E assim lá esperei tempos intermináveis, entretendo me a contar produtos nas prateleiras, a ler os constituintes de um champô anti caspa e a ouvir as conversas de chacha dos meus vizinhos da bicha ( que se dividiam na sua maioria, entre aquela casa que têm nome de uma peça de loiça sanitária, e sobre os fogos e os incendiários, mais em concreto o que fariam se os apanhassem), digamos que se fossem eles a mandar no pais, eu provavelmente não estaria aqui, mas sim no linchamento das 7, estou mesmo a ver chegava ao linchamento e provavelmente lá estaria alguém a coordenar os recém chegados, alguém, tipo..., a ditadora de bichas, e quando chegávamos éramos recebidos da seguinte maneira:" Seja bem vindo ao linchamento das 7, hoje temos um provável Pedofilo, o que osenhor deseja fazer ?Uma facada, uma cacetada, uma pedrada, uma estalada de mão aberta, ou fechada,ou talvez uma simples cuspidela ?Estou a ver o senhor é um pacifista !, desse modo pode optar por proferiralguns nomes feios.
Finalmente, só faltava aquele ser irritante que estava a minha frente.Enquanto ela punha em câmara lenta as suas coisinhas no tapete, eu jáesfregava as mãos de satisfação, tal qual uma mosca numa pocilga.Para meu azar, pois é, mais um ! ... as saquetas de chá não passavam namaquina, era uma coisa totalmente deprimente a caixa agarrava na caixa e o tãocaracterístico Bip não aparecia, por isso lá tocou a campainha, duas vezescomo o carteiro, mas é claro ninguém apareceu, e todos olhavam á sua voltanervosos pensando em conjunto "devia aparecer alguém, devia aparecer alguém,ai que nunca mais saio daqui..."Depois de mais uns repetitivos toques lá apareceu um empregada desnorteada,para rapidamente se evaporar, e voltar a aparecer passado um bom bocado com oincógnito código de barras, que da vá a conhecer o magnifico preço da saquetasde chá, somente 35 cêntimos uau, e eram de tília !Após o registo dos produtos, pensava que a minha penosa tortura havia acabado,mas não, pois é. Tudo porque aquele ser irritante foi pagar os seus 12,37 eurosdo total das compras com uma nota de 50, o que levou a famosa pergunta doscaixas " não têm nada mais pequeno ? ... é que eu não tenho trocos "Foi então com a resposta " eu vou ver ", a velha abriu a sua carteira negracheia de remendos que mais parecia um malão, enfiou a sua mão tremula nointerior e começou a retirar, tal como um magico da cartola , uma imensidãode objectos para fora, tudo desde um pequeno estojo de costura, fotografias,molhes de recibos antigos, panfletos de publicidade do professor Karamba,botões, comprimidos, e por vezes lá apreciam algumas moedas daquelas pretascom muito valor e é claro algum cotão. Era fantástico, como se aquelacarteira não possuísse fundo, pois ela continuava a enfiar a sua mão e aretirar objectos sem fim. Até que acabou por formar dois montes paralelos umde lixo e um de trocos . E enquanto ditadora esgravatinhava a sua carteira pretaa caixa aproveitava para por a conversa em dia com uma colega que ia a passar,sobre a novela do dia anterior pelos vistos que havia perdido, e que queria porem dia, e o ser á minha frente contava e voltava a recontar os trocos ,várias vezes por que a meio da contagem perdia-se, exclamando cada vez que ofazia "ai este dinheiro novo!".Foi então no exacto momento em que ocorria a terceira contagem, logo após aocomentário habitual, que larguei o pacote de leite em cima do tapete e sai dafila bruscamente, e como atitude de desafio dei um leve encontrão na velha elancei um olhar de desdém aos empregados, a medida que ma ia dirigindo para asaída partindo em rumo a liberdade...Posso lhes dizer que toda a gente tem os seus limites e o meu teria sidoultrapassado naquele momento, e que se eu não tivesse saído, apesar de estarperto do meu objectivo, muito provavelmente teria fundido os ultimos neuronios que me restam.Pois lá vou ter de ficar uns tempos sem beber leite.

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